Maestro António D’Almeida apresenta “Ensaio sobre a Surdez” à Universidade Sénior

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O maestro António Victorino D´Almeida apresentou o livro “Ensaio sobre a Surdez” à comunidade escolar da Universidade Sénior Rainha Dona Leonor das Caldas da Rainha, na tarde de 26 de março, no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha (CCC).
Conceição Henriques, o maestro e Jaime Costa no CCC

Sem formalidades, o compositor, pianista e maestro sentou-se ao piano e, com a mestria que o carateriza, guiou a plateia numa viagem pela evolução da música ao longo dos séculos. Entre notas e histórias, exemplificou cada época com interpretações ao piano.

No final da sessão, António Victorino D’Almeida respondeu a algumas questões do público, partilhando reflexões sobre a música e a cultura.

Questionado sobre quantas horas treina, respondeu que se tiver que “fazer reportório clássico, é evidente que tenho que trabalhar”. “Não direi que estudo muitas horas por dia, há muitos dias e meses em que não estudo nenhuma hora, mas quando é preciso, cá estou”, confessou.

Para além da música, revelou também o seu gosto pela escrita, mas reforçou a sua ligação à arte sonora. “A verdade é que a música é a linguagem em que me expresso melhor. Gosto muito de escrever, mas acho que através da música também se dizem muitas coisas”, salientou.

 

Crítica à vida cultural em Lisboa

 

O maestro não poupou críticas ao estado da cultura, nomeadamente na capital. “Ando a resmungar contra aquilo que se passa em termos culturais num sítio no nosso país. Lisboa é a capital do país o tanas, é a província da Europa”, disse. “Posso garantir que num dia de semana, a esta hora, em Lisboa, ter esta sala cheia é impensável. Não existe”, apontou.

Ao falar sobre a sua ligação a Viena, onde viveu durante 27 anos, referiu que “no meu país sinto-me em Portugal, mas Viena é a cidade onde realmente pertenço”.

Como exemplo da vida cultural intensa da capital austríaca, recordou um episódio recente: “Estava lá com um casal amigo brasileiro, e a certa altura a mulher comentou que nunca tinha assistido a um concerto de jazz e que gostaria de ouvir um. Respondi de imediato, vamos hoje a um concerto de jazz! Surpreendida, perguntou-me como é que eu sabia que havia um concerto naquele dia. Ao que eu retorqui: Em Viena, há concertos de jazz todos os dias”.

Ainda sobre a riqueza cultural da cidade, partilhou a experiência de uma neta que recentemente visitou Viena. “Ela achava que eu exagerava quando falava sobre a vida cultural de lá. Mas ao sair do metropolitano no centro da cidade, viu uma série de cartazes afixados nas paredes. E não eram anúncios para eventos daquela semana ou daquele mês – eram para aquela própria noite”.

Para Victorino D’Almeida, “em Viena, como em Alemanha, França, Inglaterra, entre outras, as pessoas procuram naturalmente concertos e teatros, sem que isso lhes seja atribuído um estatuto especial. A cultura não é um evento ocasional, mas sim uma parte integrante do quotidiano”.

Em declarações à imprensa, o maestro revelou que terminou recentemente duas óperas. “Num ano e meio, escrevi duas óperas por encomenda”, indicou. A primeira, com um forte cunho social, aborda a luta pelo direito das mulheres ao voto.  A segunda tem como tema a celebração dos 500 anos do nascimento de Camões”.

 

“Vitorino D’Almeida não tem um cérebro, tem três”

 

Jaime Costa, editor de “Ensaio sobre a Surdez”, apresentou a obra, destacando a genialidade de António Victorino D’Almeida e a sua visão irreverente sobre a música e a arte. “Recomendo a leitura deste livro, escrito por um homem que vive a música e a cultura de forma ímpar, num universo povoado de sons e ideias”, afirmou.

Entre os temas abordados no livro, um dos mais provocadores é a questão do plágio, que o maestro desmistifica sem rodeios. “Sem plágio, não haveria cultura. E, consequentemente, também não haveria música, pois a busca da originalidade pura levar-nos-ia a um urro ancestral, talvez consequência de um tropeção mais ruidoso, com pedras a rolar nas escarpas”.

O livro é também, segundo Jaime Costa, uma crítica feroz à censura e ao que o autor chama de “inquisição contemporânea”, que, segundo ele, afastou a música de concerto do século XX do público comum. “E aquela espécie de inquisição contemporânea, implacável a defender os seus génios anónimos, contribuiu muito mais do que qualquer outra censura oficial para que a música de concerto do século XX, na sua vastíssima dimensão, desaparecesse do contacto das pessoas normais”, manifestou.

Jaime Costa terminou a sua intervenção enaltecendo a capacidade criativa aparentemente inesgotável do maestro: “Eu já tenho dito ao maestro que ele não tem um cérebro, ele deve ter três cérebros, pelo que desenvolve em termos de trabalho”.

A sessão contou com a presença da vereadora da cultura do Município das Caldas da Rainha, Conceição Henriques, que abriu o evento com palavras de reconhecimento e admiração pelo maestro. “É um privilégio poder agradecer-lhe pessoalmente por ser a pessoa que é. Pelo facto de ter transformado a história do século XX numa outra história do século XX. São as pessoas que tornam a história diferente daquilo que ela pode ser. Muitas vezes tomamos como referência as figuras de poder, mas, na verdade, quem marca o espírito do nosso tempo são as pessoas da cultura e das artes”, afirmou a autarca.

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